Técnica Anti-Birra: Como Convencer Seu Filho a Fazer (Quase) Qualquer Coisa
Se tinha uma coisa que eu tinha medo antes de ter filho, era daqueles ataques de birra homéricos. Nem era somente pelo “que os outros vão pensar”, mas também porque eu, sinceramente, nunca tive muita paciência para ataques de birra, choros aparentemente ‘sem sentido’ e gritaria.
Depois que o Murilo nasceu, claro que me tornei muito mais tolerante do que antes de ser mãe. Impossível não mudar. Impossível não olhar para si própria no passado e pensar: “sabia de nada, inocente!”.
Mas o fato é que eu tinha muitas dúvidas sobre como lidar com o inadiável momento das birras e depois que o Murilo nasceu, comecei a pesquisar muita coisa sobre formas de criação, acabei encontrando a Criação com Apego, o conceito de “Maternagem” e finalmente, a Disciplina Positiva.
Por identificar nessas formas de criação uma forma mais natural de criar e educar crianças, fui incorporando os conceitos no nosso dia-a-dia. Sem muito método, mas com muitos testes, com muita paciência e de forma que fosse também o mais natural possível para mim e para a minha rotina.
Isso incluía conversar muito com o pequeno, desde sempre. Explicar tudo, mesmo enquanto ele parecia não entender nada. Nunca dizer um não, sem explicar o motivo exato daquilo e sempre tentar dar alternativas, mesmo quando ele ainda não parecia ter condições de escolher.
Enquanto ele era bem pequenininho as escolhas eram do tipo: “você prefere a roupinha azul ou a verde? a azul ou a verde? a azul ou a verde?” e a que ele desse algum sinalzinho, sorrisinho ou algo do tipo, eu interpretava como sendo uma escolha.
Pode parecer bobeira, mas eu acho que isso fez bastante diferença para ele. Desde que ele aprendeu a se expressar (mesmo antes de falar), ele demonstrava as escolhas dele e começou a ser questionador sobre os motivos dos sim’s, dos não’s e de todas as “ordens” que ele recebia. E eu acho isso incrível.
Antigamente, as crianças eram “obedientes” e eu simplesmente detesto essa palavra. Obedecer, significa sempre que há alguém dando ordens e outro acatando e esse não é o modelo de relação que quero que ele tenha como normal. Quero que ele seja questionador: se alguém diz que algo é melhor, tem um motivo. Se alguém diz que não pode, tem um motivo. Se alguém diz que “tem que” fazer algo, tem um motivo. E é importante ele ver essa relação e ter a curiosidade de entender os motivos por trás de todas as coisas ao invés de, simplesmente, obedecer.
Eu acredito que isso fará dele um ser humano mais crítico e mais consciente. Então cada vez que ele me pergunta “mas puquê?” eu tenho vontade de morder de tanta felicidade!
Com o tempo, conforme fui me aprofundando um pouco na disciplina positiva, fui percebendo que essa é uma das principais raízes: dar escolha, autonomia e explicar sempre todas as coisas, de forma que a criança sinta que faz parte das decisões, que tem voz ativa e que pode decidir. A criança é um ser humano e só quer ser tratada como tal. E me diga: quem é que gosta de regras impostas?
A partir desse conceito, fui criando algumas técnicas para conseguir convencê-lo, mesmo nos momentos mais críticos, a fazer (quase) qualquer coisa. Fiquei pensando que seria muito legal compartilhar aqui alguns exemplos do que tem funcionado pra gente, para que talvez você consiga adaptar para a sua realidade.
Sei que cada criança é diferente e que além da criação, há inúmeros outros fatores que podem fazer uma criança reagir de forma “birrenta” aos estímulos externos, mas tenho certeza absoluta que se você testar algumas dessas sugestões, provavelmente não conseguirá zerar os ataques de mal humor, mas certamente sentirá uma melhora incrível no comportamento. Não custa tentar, certo? 🙂
Entrar no Banho
Sei que levar a criança para o banho é uma luta em muitas casas. Aqui também tende a ser, mas a gente conseguiu amenizar muitíssimo o processo com algumas técnicas.
Em primeiro lugar, estabelecemos uma rotina (mais ou menos) consistente. O banho sempre acontece mais ou menos no mesmo horário e seguindo uma ordem sempre igual. Isso faz com que ele já esteja preparado para ir para o banho quando vai chegando a hora.
Já precisamos mudar a rotina algumas vezes e na primeira semana passa a ser um pouco mais difícil, mas logo ele se acostuma com o novo jeito de ser e tudo volta a ser mais suave. Portanto, se vocês ainda não têm uma rotina, nunca é tarde para começar. Em uma ou duas semanas seu filho já estará adaptado e esse momento será muito mais fácil para vocês.
Acontece que nem sempre a rotina é suficiente. Muitas vezes, justamente por já saber o que vem em seguida, a criança já começa a dar chilique e dizer que não quer ir tomar banho. E aí?
Aqui em casa funciona muitíssimo bem essas três técnicas:
- Dizer o que vem depois (desde que seja algo bem legal)
Filho, vamos tomar um banho bem gostoso agora e logo depois a gente vai papar e brincar de massinha, o que acha?
- Dar opção
O que você prefere? Papar ou tomar banho primeiro?
Como ele está querendo evitar o banho, vai escolher o papá. E aí eu aceito a decisão dele:
Vamos papar então e logo depois vamos pro banho, combinado?
- Ceder levemente
Tudo bem meu amor, brinque mais um pouquinho enquanto a mamãe prepara o banho. Na hora que o banho estiver pronto eu te chamo e aí você vai correndo pro banho, pode ser?
- Inovar
Nos dias mais críticos, quando eu percebo que ele já passou do ponto no sono, ou está muitíssimo entretido em uma atividade ou já tentei todas as técnicas e nenhuma funcionou, então o segredo é inovar, fazendo o momento do banho algo diferente e único, para que ele perceba que vai ser muito legal e decida que quer ir. Pode ser tomar banho no outro banheiro, na sacada (num dia de calor), com o papai, ou então levar um boneco bem legal para tomar banho. Outras coisas que já funcionaram foi chamá-lo para lavar o box do banheiro, lavar o meu cabelo ou jogar água na cabeça do papai. A chave é usar a criatividade sugerindo algo que sei que será irresistível pra ele. Essa funciona quase 100% das vezes!
Sair do Banho
Ok, consegui convencê-lo a ir para o banho “inovador” e agora ele está se divertindo muito. Como tirá-lo de lá sem chororô?
Os princípios são os mesmos:
- Dizer o que vem depois
“Murilinho, vamos sair agora para papar e brincar de massinha, igual a gente combinou?”
- Dar opção
“Filho, hoje você vai virar sapinho ou virar baleia?” (sobre qual toalha ele vai usar para se secar).
Quando ele escolhe a toalha: “vem! então vamos virar baleia!”
Enrolo ele e saio cantando a música do Palavra Cantada, adaptada:
“Vira baleia, vira baleia, ele virou, ele virou uma Baleia. Pula Baleia, Dança Baleia, ele virou, ele virou uma Baleia…”
- Ceder levemente
“Quer lavar o box mais uma vez? Tá bom! Então só mais uma, tá? A última vez e depois a gente sai? Combinado? Então VAMOS LÁ!!!!” – e deixo ele completar a missão dele enquanto eu participo e faço festa junto, até finalizar e finalmente desligar o chuveiro ou tirá-lo da bacia.
- Inovar
Botar a criatividade pra funcionar mais uma vez!
“Vamos sair de ponta-cabeça?” ou “Sai daí pra gente apostar corrida até o quarto!!! Tem que ir correndo e dar um pulão na cama, heim?”
Ele sempre se diverte e morre de rir. É bem provável que no dia seguinte ele peça para repetir o ritual.
Desligar o Celular/ iPad
Taí algo que era bem difícil no começo, mas que fui encontrando o jeitinho aos poucos. Aqui o segredo é sempre combinar antes.
Eu não gosto que ele use muito o celular e o ipad, então sempre que ele pede, nós já combinamos o limite de uso. Ele está agora com 2 anos e 9 meses, mas fazemos isso desde que ele tem um ano e pouco. Então vou contar como era antes e como é agora:
Com 1 ano e pouco, eu combinava assim com ele: “Ok filho, pode brincar, mas só até a mamãe pedir pra desligar, tá bem? Quando a mamãe falar pra desligar, tem que dar o celular pra mamãe. Combinado?”. Ele normalmente dizia que sim com a cabeça. Eu estipulava um tempo e quando estava quase na hora de desligar eu lembrava ele: “Filho, só mais 1 vídeo e aí você me entrega, tá bem?”.
O “só mais um” é bem fácil de entender nessa idade, quando há bastante diálogo com a criança, então dizer que está chegando perto do fim, é uma ótima estratégia.
Na hora que terminava esse último vídeo eu dizia: “Prontinho! Que legal! Agora é hora de desligar, igual a gente combinou. Vamos desligar?”. Funcionava bem, na maioria das vezes!
Quando ele resistia, eu perguntava, dando a escolha: “neném desliga ou mamãe desliga?”. E ele, com a vontade de ser independente, que é natural de toda criança, optava por fazer sozinho. Ele mesmo desligava e me devolvia o celular.
Conforme ele cresceu, comecei a dar limites mais complexos: “Tudo bem filho, mas só dois vídeos, ok?”. E ele, querendo sempre questionar e argumentar: “Cinco!”. Aí é hora de usar o princípio do ‘Ceder’: “Ok! 5 vídeos então! Quando terminar os 5 você desliga e me dá, sem chorar e sem reclamar, certo?”.
E é incrível que ele mesmo controla! Ele começa assistir o primeiro e diz: “Esse é o Um”. Quando troca de vídeo, mesmo que esteja na metade do primeiro, já diz: “Esse é o Dois” e assim vai. Ao terminar o quinto, quase todas as vezes ele fica feliz e diz: “Cincooooo! Ponto!”. E aí ele mesmo desliga e me dá o celular ou iPad.
Agora ele já está tão acostumado com o limite dos 5 vídeos que eu posso sair e ir lavar a louça enquanto ele assiste os cinco, pois na hora que termina ele sempre desliga o celular e vai me entregar.
Tem muita gente que diz: “Nossa! Mas ele é muito bonzinho! Meu filho jamais faria isso”. Será? Eu garanto que antes de eu conseguir estabelecer uma forma de comunicação eficaz com ele, ouvi muitos gritos e choros sentidos quando tentava tirar dele o celular. Se eu tivesse insistido nessa comunicação de imposição e de uma certa violência, posso afirmar com 100% de certeza que ele não seria assim “tão bonzinho”.
Desligar a Televisão
A televisão é um pouco mais difícil que o celular ou iPad, pois ela não é controlada por ele e eu também não sei o quanto pode demorar cada programa. Se eu disser “mais um” e ele disser “mais cinco”, pode demorar a manhã ou tarde inteira.
O que eu faço então é combinar que ele assista até o fim daquele programa específico. Ou então ainda uso a técnica que usava para o celular, quando ele era menor: “Tudo bem, vou ligar, mas quando eu disser que tem que desligar vc desliga sem chorar?“.
Só que isso não tem mais funcionado tão bem, porque o programa demora para acabar e ele perde o ‘link’ do combinado. Então o jeito é mesmo dizer que é só até acabar aquele programa e lembrá-lo a cada comercial:
“Ainda não acabou, oba!!! Quando acabar o que a gente vai fazer?”
E ele diz: “Delisgá” <3
Mas isso às vezes também não funciona, principalmente quando o programa é longo. Então eu uso a criatividade e a disposição que ainda há em mim e chamo ele para uma atividade muito mais legal que a TV: uma ida ao parquinho, fazer um bolo juntos ou estourar pipoca. Mas eu nunca, jamais desligo a TV sem dar a ele uma opção melhor. Se eu fizer isso, é grito, choro, chute e ataque de se jogar pra trás, na hora.
Se Comportar no Mercado
Murilo me acompanha muito ao mercado. Desde sempre. Isso, por si só, já ajuda bastante, pois é um ambiente que ele conhece bem e sabe o que está sendo feito ali. Mas depois que cresceu e que passou a ter vontades, que entendeu que tudo o que está ali pode se “compar”, as coisas começaram a ficar um pouco mais complexas.
O jeito que encontrei foi mantê-lo sempre entretido e envolvido na compra, além de sempre combinar antes o que vamos comprar pra ele no mercado. Às vezes nem precisa ser algo específico, mas eu digo pra ele: “Vamos comprar uma coisa bem legal pra você?” e o olhinho até brilha! E aí eu digo: “o que você vai querer?”. Se ele já tem algo em mente já fala e aí passamos a compra “procurando aquele item especial”. Se ele diz que não sabe, eu digo: “Então a gente vai lá no mercado e você escolhe o que quiser. Mas é UMA coisa só, tá certo?”.
E ele fica muito, muito feliz de poder escolher. Às vezes ele diz que quer uma coisa e quando encontra outra mais legal, diz que quer aquela também. “Filho, a gente combinou de pegar UMA coisa, lembra? Qual vai ser? Essa ou essa?”. Ele olha e escolhe a mais legal.
Nesse ponto, eu faço algo pelo futuro dele também: como eu sei que esse padrão de só poder comprar uma coisa sempre pode acabar limitando ele no futuro a ter uma idéia de escassez, de que só pode ter 1 coisa por vez, eu procuro, de vez em quando, levar as duas. Digo algo como: “puxa! essas duas coisas são mesmo muito legais! vamos levar esses dois hoje?”.
Ir Embora do Parquinho
Agora talvez já esteja ficando meio repetitivo, pois acho que já percebeu que o conceito é o mesmo em todas as situações: dar possibilidade de escolha, de autonomia e de negociação. Mostrar para a criança que ela pode escolher e pode controlar a situação, de certa forma. Que a opinião e a vontade dela importam tanto quanto a dos pais e que nada é imposto e sim combinado entre as partes.
Então, no parquinho, quando vai chegando a hora de ir embora, eu digo:
“Filho, a gente precisa ir embora. Quer brincar mais um pouquinho?”
E ele: “não quelo í embola! quelo bincá!”
“Tudo bem querido, pode brincar. Escorrega mais 2x e aí a gente vai, pode ser?”
“Cinco!”
“Tá bom então! 5 vezes e aí a gente vai?”
“É!”.
E aí ele escorrega 5 vezes, fala tchau pra todo mundo e sai cantando e correndo, pra disputar quem é que vai apertar o botão do elevador.
Quando não funciona, eu uso justamente o botão do elevador como gatilho pra convencê-lo:
“Ah, não quer ir? Tá bom então! Eu vou chegar antes de você e EU vou apertar o botão do elevador! Há Há Há! Já tô indoooo”
E ele sai correndo: “Neném apééééiiiiita!”. Missão cumprida! 🙂
Ir Dormir
E essa é a missão mais difícil de todas e de todos os tempos. Murilo detesta ir dormir e desde sempre é um martírio para convencê-lo a ir, então para essa atividade, eu sempre tenho que mudar as táticas.
O que tem funcionado muito bem aqui ultimamente é primeiramente, a rotina. Desde que comecei a implementar a rotina e algumas dicas do livro “Soluções Para Noites Sem Choro”, vai chegando perto do horário de dormir e ele já está entregando os pontos. Algumas (raras) vezes ele mesmo diz que quer ir nanar e eu quase comemoro soltando fogos de artifício.
Mas quando isso não acontece por livre e espontânea vontade, o truque aqui tem sido chamá-lo para fazer algo que ele gosta muito, mas na cama. Ultimamente é “assistir 5 vídeos e ler um livro”. Se ele recusa (acontece com frequência), eu simplesmente digo: “tá bom então… fica aí com o papai que a mamãe vai deitar lá sozinha e assistir 5 vídeos, depois vai ler um livro sozinha pra descansar”. E ele sai correndo e diz: “neném vaaaaaiiiii!”.
Tem funcionado bem! Não que ele durma rápido depois disso, mas pelo menos tenho conseguido levá-lo para cama no horário certo, na maioria dos dias e sem choro!
Como eu disse antes, eu sei que cada criança é diferente e que nem todas essas coisas funcionam para todas as crianças. Mas eu tenho certeza que se você tentar aplicar os princípios descritos aqui e adaptá-los para as coisas que seu filho ou filha gosta de fazer e para a rotina de vocês, haverá enorme chance de sucesso.
É importante ainda dizer que muitas, muitas vezes que as crianças têm ataques de birra inconsoláveis, elas estão passando por um momento de sofrimento e agonia e normalmente esse sofrimento está ligado à fome ou ao sono. Sono principalmente!
A criança não sabe identificar exatamente quando está com sono, então ela demonstra isso com a irritação extrema. Nós, que somos adultos, quando somos privados do sono também nos tornamos irritados e muitas vezes agressivos. Imagine uma criança! A criança precisa ser levada para dormir, então se você normalmente deixa “ela demonstrar que está com sono” para levá-la para a cama, pode estar sem querer, ativando o monstrinho que há dentro dela.
Em breve vou falar mais sobre isso aqui no blog, resumindo o grande aprendizado que tive com o livro que citei ali em cima: Soluções para Noites sem Choro. Assine minha newsletter na caixinha aqui em baixo desse post para ser avisada sobre esse e outros posts! 😉
E para finalizar, caso você aplique algumas das estratégias que compartilhei aqui, deixe um comentário depois, dizendo se funcionou ou não pra você! Vou adorar saber e tenho certeza que você também poderá ajudar outras mães e pais com seus exemplos e experiência!
Até logo!